Um date Marte-Netuno
Da série ‘Tem um filme que fala sobre isso’
Como seria bom se conseguíssemos unir e espalhar os melhores atributos dos dois astros em questão. Românticos sem causa ou rumo, engajados e atuantes, achados e perdidos – uni-vos.Um date Marte-Netuno
por Sandra Oliveira
" A minha solidão que esbraveja como um náufrago ".
Pablo Neruda
Hoje eu acordei pensando na conjunção astrológica entre Marte e Netuno que ocorre mais ou menos a cada 2 anos e ficou exatíssima pela última vez em 29 de abril de 2024. Para a astrologia, uma conjunção é a ‘soma’ das características dos astros envolvidos e neste caso, a ‘soma’ entre Marte, o Deus da Guerra e Netuno, o Posseidon, Deus dos mares.
Vale dizer que Marte simboliza a individualidade, a iniciativa, o desejo, tudo que é bélico e arde e inflama. Já Netuno simboliza o sonho, o amor universal, as ilusões, a vulnerabilidade, a criatividade, a empatia e é a representação imagética da realidade.
Pensando em como seria bom se conseguíssemos unir e espalhar os melhores atributos dos dois astros em questão eu abri o ‘face’ e logo vi uma chamada para um filme do Wim Wenders. O nome sugestivo ‘Sumergence/Submersão’ me intrigou - será que tem a ver com a tal conjunção? Fui checar.
E viva a sincronicidade! Ao melhor estilo Wim Wenders em Perfect Days eu fui surpreendida com um filme-aula sobre o simbolismo de Marte conjunção Netuno. Cada detalhe do roteiro, que às vezes patina é verdade, remete a uma ‘função’ astrológica atribuída a um dos dois planetas.
Explorando lugares aonde a luz não chega o filme tem características suaves típicas de Netuno e aflitivas próprias de Marte. É “a inversão do Sol como fonte de vida”.
Danielle é biomatemática e pesquisa a origem da vida na Terra nas profundezas do oceano. James, o ‘sr. Água’ é um agente secreto que embarca numa missão na Somália, sob o pretexto de ajudar a captar água potável. (repare quantas vezes durante o filme os olhos dele ficam marejados). Nobres causas humanitárias.
Os dois se apaixonam rapidamente e o “tô dentro” vira um romance que é uma espécie de Romeu e Julieta dos nossos tempos, sem Capuletos e Montéquios, porque os pais, nesse caso, são a geopolítica e geociência.
É uma história de desencontros, solidão neste mundo lotado de gente e sobre as conexões que nos unem e nos separam... também sobre o terror do fundamentalismo religioso e o trabalho do mundo científico. Remete ao ‘sacro-ofício’ ou ao ‘sacrifício' comuns ao modo como as pessoas que têm Netuno ou Peixes exaltados em seus mapas costumam atuar. Eles são presos pelo trabalho e por causa do trabalho, ela no submarino, ele nas celas de tortura.
O fotógrafo, Benôit Debie, deve ter Netuno bem posicionado no mapa natal pois a fotografia traduz com maestria os sentimentos das cenas, é linda e impressionante.
Usando belas paisagens, os abismos do Oceano Atlântico, referências ao submarino amarelo dos Beatles, celas africanas subterrâneas de tortura, matança, conflitos morais, fé, radicalismo, dificuldades de entendimento entre diferentes culturas... Wim Wenders me fez pensar sobre a urgência de unirmos Marte Netuno, coletiva e individualmente.
Simpatizantes de Alá ou do imperialismo; românticos sem causa ou rumo, engajados e atuantes, achados e perdidos – uni-vos. Que todas as pessoas pratiquem a fusão de Marte com Netuno, no plano social e principalmente com elas mesmas. Você pratica a empatia com os outros? E com você mesmo?
Dando a ficha:
Submersão (Submergence) — Alemanha, França, Espanha, EUA, 2017
Direção: Wim Wenders
Roteiro: Erin Dignam (baseado na obra de J.M. Ledgard)
Duração: 112 min.
Fotografia: Benôit Debie
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