Influência dos Astros?

Tanto os detratores quanto alguns defensores da astrologia falam em influência dos astros.  Seria apenas um detalhe se isso não refletisse uma forma enviesada de pensar e entender o fenômeno astrológico.
Influência dos Astros?

Se eu uso a palavra influência, estou sugerindo uma ação direta dos astros, que até determinam minha vida, então posso atribuir integralmente meu destino aos objetos cósmicos tão distantes que enfeitam o firmamento, numa espécie de terceirização de responsabilidade. E como se daria tal influência?

Um dos poucos acadêmicos modernos que defendem publicamente a ideia que os astros realmente influenciam diretamente nossa vida na terra é Percy Seymour, professor de astronomia e astrofísica da Universidade de Plymouth. Em seu livro Astrologia e Evidência Científica ele tenta provar a ação do magnetismo cósmico no processo astrológico, o que lhe rendeu muitas críticas do meio, já que, segundo a Física, com exceção do Sol e da Lua, os astros exercem pouca ou nenhuma influência gravitacional sobre a Terra. Por exemplo, a ação gravitacional ou magnética de Saturno seria desprezível, praticamente a mesma de um carro passando na rua.

Sim, ainda há controvérsias, mas não temos motivos para duvidar da ciência corrente, pelo menos neste caso. Então, se a ideia da influência direta dos astros não se sustenta, se não somos apenas marionetes dos astros, devemos perguntar: “Como funciona a astrologia? Felizmente, quando formulou o conceito de sincronicidade, o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung forneceu pistas para que os astrólogos pudessem formular uma resposta a esta pergunta espinhosa. Estudando psicologia e astrologia, observando seus pacientes e o mundo á sua volta, Jung percebeu que, em determinadas circunstâncias, a ligação entre os acontecimentos parecia ser de natureza não causal, sem qualquer relação aparente de causa e efeito.

Para designar o fenômeno, ele usou a palavra sincronicidade, palavra que remete à simultaneidade de fatos ocorrendo num mesmo momento. Uma das várias definições que ele deu ao conceito durante sua carreira forneceu uma chave para a compreensão do fenômeno astrológico: “...uma coincidência, no tempo, de dois ou vários eventos, sem relação causal, mas com o mesmo conteúdo significativo.” Tal definição sugere que a relação entre os astros e a vida na Terra é uma relação temporal simultânea, isto é, os acontecimentos e os movimentos dos astros apenas coincidem no tempo. Há uma relação, mas não é de causa e efeito.

Ele estabeleceu três outras categorias de fenômenos de sincronicidade:

  • Coincidência de um estado psíquico com um evento externo objetivo simultâneo.
  • Coincidência de um estado psíquico com um evento externo simultâneo, mas distante no espaço.
  • Coincidência de um estado psíquico com um evento externo distante no tempo.

Podemos citar alguns exemplos que se enquadram nessas categorias, como o de uma mãe que sonha que o filho bateu o carro e acorda com um telefonema confirmando o acidente. Contudo, embora não se encaixe totalmente nessas categorias, o caso dos presidentes americanos Abraham Lincoln e John F. Kennedy apresenta tantas sincronias e simetrias que fica difícil atribuí-las apenas ao acaso:

 

  • Lincoln foi eleito para o Congresso em 1846
    Kennedy foi eleito para o Congresso em 1946
  • Lincoln foi eleito presidente em 1860
    Kennedy foi eleito presidente em 1960
  • As esposas de ambos perderam filhos enquanto viviam na Casa Branca
  • Ambos foram assassinados numa sexta-feira, na presença das esposas
  • Os dois foram baleados por trás, com tiros na cabeça
  • Lincoln foi morto na sala Ford, do teatro Kennedy
    Kennedy foi morto num carro Ford, modelo Lincoln
  • Os sucessores de ambos chamavam-se Johnson
  • O assassino de Lincoln saiu correndo de um teatro e foi preso num depósito
    O assassino de Kennedy saiu correndo de um depósito e foi preso num cinema
  • Os nomes de ambos os assassinos têm 15 letras          
  • Ambos os assassinos foram mortos antes de seus julgamentos.

O conceito de sincronicidade de Jung pode explicar, pelo menos em parte, como funciona a astrologia, mas não responde a questões cruciais: Existe algo que determina nosso destino? Há uma causa para a vida humana? Assim como não sabemos qual a causa dos fenômenos de sincronicidade, não sabemos o que determina nosso destino nem se há uma causa para a vida.   Podemos apenas especular que, se todo fenômeno inteligente pressupõe uma causa inteligente, a vida humana deve ter uma causa inteligente. Podemos até conjecturar que seja a mesma dos fenômenos de sincronicidade e dos movimentos dos planetas, mas ainda não podermos determiná-la. Tudo bem, nós podemos conviver com isso. O que importa é que a astrologia funciona. Só evite falar mais com tanta convicção em influência dos astros, a não ser que você possa explicar que influência é essa.



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