Mapa Astral de Hilda Hilst
Ilustre e talentosíssima taurina
Bela, inteligentíssima, rica e talentosa, Hilda viveu intensamente os prazeres mundanos durante a juventude, mas, depois dos 30 anos, ela abandonou a vida social e se isolou em seu sítio em Campinas, para pensar e escrever."Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo. E que descanso me dás
Depois das lidas. Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada."
Hilda Hilst tinha Sol em Touro com Ascendente em Capricórnio e Saturno praticamente na casa 1, o que indica uma pessoa sensível aos prazeres estéticos e sensoriais, mas precocemente madura, que busca a sabedoria através do trabalho, com seriedade e constância, indicação que parece ter se confirmado.
Bela, inteligentíssima, rica e talentosa, Hilda viveu intensamente os prazeres mundanos durante a juventude, mas, depois dos 30 anos, ela abandonou a vida social e se isolou em seu sítio em Campinas, para pensar e escrever. Lá, onde recebia os amigos, artistas e intelectuais, ela escreveu poesia, prosa, crônicas e também textos para o teatro, densos e profundos, que que conquistaram o respeito dos críticos, mas que não eram lidos pelo grande público. Hilda reclamava ironicamente que, até os anos 90, seus textos eram considerados tão incompreensíveis quanto inscrições numa tábua etrusca. Sim, ela tinha muito humor, sutil e, ao meso tempo despudorado, e também escreveu coisas divertidíssimas, sobre tudo o que é humano. Afinal, Hilda tinha Mercúrio em Touro na casa 5 em conjunção com Vênus, o que indica uma pessoa inteligente, intelectualmente bem dotada, sofisticada, mesmo quando gracejava ou usava expressões abaixo da cintura, sem jamais ser vulgar ou superficial. Para ela, a palavra era um prazer e um bálsamo para o vazio da alma, mas também um arma contra a mesquinhez da existência.
Em seu mapa, o Sol está em trigono com Netuno, que rege sua casa 3, o que nos ajuda a entender o fato de Hilda ser tão permeável e pensar e escrever de forma tão lírica e arrebatada. Ela costumava dizer que quando escrevia era tomada pela inspiração como se estivesse em estado febril. Outros fatos de sua vida corroboram essa indicação. Ela contava que, um dia, havia recebido uma mensagem telepática ordenando que saísse para a área externa da casa antes que fosse tarde, e que quando o fez, avistou um disco voador que logo desapareceu. Nas décadas de 1960 e 1970, Hilda desenvolveu pesquisas na área de transcomunicação instrumental, que é uma técnica que tem como objetivo o contato sonoro e/ou visual com espíritos ou seres invisíveis através do uso de aparelhos eletrônicos, como gravadores, computadores, etc.
O que também chama atenção em seu mapa é o fato de que todos os planetas pessoais estão situados no hemisfério Sul, o que indica certa introspecção com tendência a olhar para dentro de si mesma.
Tal tendência é reforçada por Plutão em oposição ao Ascendente, que é compatível com o eterno questionamento e com sua pulsão natural para mergulhar profundamente na essência das coisas. A questão da morte, da finitude das coisas, está sempre presente em seus textos.
No entanto, há indicações em seu mapa que parecem inconsistentes. Por exemplo, podemos argumentar que com Sol em Touro e Saturno funcionando para a casa 1, em Capricórnio, que é seu signo ascendente, Hilda poderia ser uma pessoa contida e cuidadosa em relação às questões materiais e financeiras, para dizer o mínimo. Nem de longe tal imagem corresponde à verdade. Há inúmeros fatos que atestam sua extrema generosidade, às vezes quase excessiva. Ela costumava emprestar dinheiro a amigos mesmo sabendo que eles jamais a pagariam. Ela simplesmente se desapegava e dava a dívida como quitada.
Além disso, como é indicado em seu mapa por Júpiter na casa 6 em trigono com a Lua, ela chegou a abrir mão de certos confortos para abrigar quase 70 cães, aos quais dedicava cuidados que, às vezes, negava a si mesma. As aparentes contradições são explicadas pelo fato de que ela tem Aquário e Lua na casa 2, o que indica uma forma de lidar com o dinheiro absolutamente original, desprendida, impessoal mesmo.
Ela deixou uma obra monumental, que foi conservada graças ao trabalho de Olga Bilenky e Daniel Fuentes, amigos de toda a vida e administradores do Instituto Hilda Hilst, que funciona na Casa do Sol, onde Hilda viveu e morreu, em fevereiro de 2004.
Hilda Hilst foi uma escritora singular, complexa e sofisticada, e uma mulher admirável e verdadeira, que nunca deixou de se espantar com o escândalo da vida.