Críticas à Astrologia
A relação com a Psicologia
Com certa frequência, sites, revistas e jornais publicam ataques à astrologia, mas continuam faturando com as páginas de horóscopo, uma das mais lidas de todos os veículos de comunicação. E qual a relação entre a astrologia e a psicologia?Críticas à astrologia
A astrologia surgiu há milênios, como resposta à necessidade humana de entender um universo misterioso e assustador. Desde então, o homem tenta identificar sinais da correspondência entre a dinâmica cósmica e a vida em nosso planeta. Estudada em todas as épocas e em todas as culturas, a astrologia foi matéria universitária até 1666, quando foi expulsa por ordem de Colbert, ministro de Luís XIV, sob a alegação de que não tinha fundamento cientifico.
Hoje, embora permaneça viva, a astrologia é objeto de muitas críticas e sofre desgaste constante, devido à visão cientificista que se instalou em nossa sociedade, mas também à ação ambígua da mídia. Por um lado, com certa frequência, sites, revistas e jornais publicam matérias desabonadoras e ataques à astrologia, enquanto por outro, faturam com as páginas de horóscopo, uma das mais lidas de todos os veículos de comunicação, diga-se de passagem. Claro que a astrologia é passível de críticas, mas, geralmente, as matérias são assinadas por jornalistas com pouco ou nenhum conhecimento sobre o assunto e que nem sequer se deram ao trabalho de pesquisar com um mínimo de critério.
De forma geral, as pessoas leigas e céticas rotulam o tema como bobagem ou negam a validade do fenômeno astrológico. Elas argumentam que a astrologia não cumpre o que se propõe a fazer, qual seja, prever o futuro. Correndo o risco de desagradar os astrólogos, me arrisco a afirmar que, devido ao grande número de variáveis, a previsão é muito difícil e nem é (pelo menos não deveria ser) o objetivo primeiro da prática astrológica.
Um exemplo para ficar mais claro: a astrologia pode identificar no mapa de uma pessoa talentos latentes, assim como as melhores formas e os melhores períodos para que ela os desenvolva, mas são pequenas as chances de um astrólogo prever com precisão que a pessoa vá se tornar um ator, ser escolhida para um filme e ganhar um prêmio em determinada data. E qual a razão de tal dificuldade? O mapa astral tem dois eixos que simbolizam o destino e o arbítrio respectivamente. Ou seja, a pessoa sempre tem algum grau de escolha, escolha que modifica ou confirma o que está indicado no mapa. Não podemos esquecer a máxima: “Os astros indicam, mas não determinam.”
Mas há críticas mais elaboradas, algumas feitas por intelectuais e cientistas renomados. Uma das mais conhecidas é a que foi feita por Carl Sagan, cientista que ganhou notoriedade nos anos 80. A crítica se baseia na ideia de que gêmeos deveriam, necessariamente, ter a mesma personalidade, o mesmo comportamento, o mesmo destino, etc. Realmente, há muitos gêmeos que têm temperamentos totalmente diferentes, mas a aparente inconsistência também pode ser explicada pela questão do arbítrio. Além disso, é sabido que muitos gêmeos têm comportamento e destino não apenas parecidos, mas realmente convergentes. Quem duvidar pode assistir alguns episódios da série do Discovery Channel, cujo título é Gêmeos e Perversos, ou acessar o texto que escrevemos sobre o assunto: https://www.viastral.com.br/materia/os-gemeos-e-a-questao-estatistica/
Outra crítica recorrente é a que questiona a ideia da “influência” dos astros, já que alguns planetas, como Plutão, por exemplo, estão tão longe e são tão pequenos que não poderiam afetar a vida aqui na Terra. Bem, de fato, esses planetas não exercem influência gravitacional ou eletromagnética significativa sobre nós. Então, que tipo de influência eles exerceriam? A resposta é simples: não temos certeza e talvez nem devêssemos usar a palavra influência. Embora alguns pesquisadores, como o astrofísico Percy Seymour, postulem a ideia de uma ação direta dos planetas, num modelo de causa e efeito, a hipótese que nos parece mais aceitável é a da Sincronicidade, elaborada pelo psiquiatra C.G Jung.
Segundo tal hipótese, em alguns fenômenos, como a astrologia, por exemplo, pode se estabelecer uma relação significativa entre dois ou mais elementos, sem que exista uma relação causal entre eles. Para dar um exemplo trivial: você sonha com alguém que não vê há muito tempo e acorda com um telefonema da mesma pessoa. O sonho não causou o telefonema, não há relação de causa e efeito entre eles, mas sim uma relação de sincronicidade, na qual os dois fenômenos têm uma ligação temporal não causal. Tal conceito pode explicar o fenômeno astrológico e responder à crítica em relação à “influência” dos astros. Afinal, se não faz sentido pensar que o movimento de um planeta possa causar determinado fato, fica mais fácil aceitar que, por algum motivo, o movimento do planeta e o fato tenham uma relação temporal sincrônica.
A conflituosa relação com a psicologia.
Qual a relação entre astrologia e psicologia? Bem, podemos dizer que não há uma relação direta entre as duas matérias, já que a primeira é considerada uma crendice ou mera curiosidade, enquanto a segunda é considerada uma ciência da psique. No entanto, apesar das divergências entre astrólogos e psicólogos, também podemos identificar alguns pontos em comum.
- Há muitas vertentes astrológicas, mas podemos fazer uma divisão básica que separa a Astrologia Clássica ou Medieval e a Astrologia Moderna. Há muitas diferenças entre elas. A primeira não considera Urano, Netuno e Plutão e tem uma abordagem mais pragmática, já a segunda incorpora estes planetas e dá mais atenção ao sujeito, adotando uma abordagem que não exclui as variáveis psíquicas possíveis. Muitos astrólogos que adotaram a Astrologia Moderna eram/são psicólogos, o que serviu para aproximar um pouco as disciplinas antes separadas por um profundo fosso de dogmatismo e preconceito.
- Assim como a alquimia é antecessora da química, a astrologia é antecessora da astronomia e também contribuiu para a formação dos conceitos psicológicos, já que os signos podem ser considerados como referências para os tipos de personalidade.
- Como muitos psicólogos, C. G. Jung estudou profundamente os fundamentos e o simbolismo da astrologia. É dele a frase: “É certo o reconhecimento da astrologia pela psicologia... representa a soma de todo o conhecimento psicológico da antiguidade”. Ele chegou inclusive a fazer pesquisas sobre ancestralidade astrológica, tabulando um levantamento dos mapas de 180 casais, entre os quais encontrou correspondências significativas. Por um lado, o trabalho de Jung contribuiu para reduzir o preconceito com que essa matéria era vista no meio acadêmico, por outro, acirrou a animosidade de profissionais de outras escolas psicológicas.
Uma das principais críticas que se faz à astrologia é a impossibilidade de auferir seus resultados sob o rigor da metodologia científica, mas talvez o mesmo questionamento pudesse ser feito em relação à psicologia. Calma, senhores acadêmicos, não se trata de questionar postulados ou o status de ciência conferido à psicologia, mas a própria origem da palavra (psique, do grego) está relacionada à alma ou espírito e sugere que pode haver certe dificuldade em definir o objeto de estudo de uma disciplina tão abrangente, que tangencia a religião, o misticismo e até mesmo a astrologia. Alguém também poderia argumentar que quando um psicólogo freudiano faz uso de conceitos como Id ou Superego, por exemplo, ele está recorrendo a um simbolismo, de forma similar a um astrólogo quando interpreta o mapa natal de uma pessoa.
Nosso interesse é apenas suscitar algumas reflexões que, com um pouco de boa vontade, talvez possam aproximar as duas áreas de conhecimento. Por ora, fica a pergunta: pode haver um ponto de convergência ou, pelo menos, uma área de intersecção entre elas? Esperamos que sim.